domingo, 7 de abril de 2013

Quando eu plantei uvas pela primeira vez no sistema espaldeira, me chamaram de louco(Mario Geisse)


A Vinícola Geisse foi fundada em 1979 pelo engenheiro agrônomo e enólogo Mario Geisse, chileno que veio para o Brasil em 1976 contratado para dirigir a Moët & Chandon do Brasil. Logo nos primeiros anos percebeu que aqui existia um potencial incrível e ainda não desvendado para se desenvolver a elaboração de produtos de alta qualidade, principalmente em matéria de espumantes, o qual ele considerava ser a grande vocação da região.
Desde então passou a investigar qual seria o local mais apropriado para plantar seus vinhedos e obter o padrão mais elevado possível em matéria prima, Geisse então deparou-se com a região de Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves, hoje conhecido como região dos Vinhos da Montanha, ai ele identificou todas as características consideradas ideais para iniciar seus trabalhos, como boa altitude (800m), solo com excelente drenagem, boa amplitude térmica e posição solar ideal, tudo para que pudesse seguir em busca de seu principal objetivo, que era o de desvendar o real potencial de qualidade que a região poderia oferecer, para isto renunciou as grande produções do método de cultivo vigente na região - latada - e optou pelo de espaldeiras altas, com produções menores, mas de melhor qualidade, aliando conhecimento, tradição e técnica.
Hoje na Geisse tudo é voltado na busca da qualidade, sendo uma vinícola extremamente preocupada dos detalhes em cada fase do processo, partindo da matéria prima. Toda essa dedicação hoje é recompensada com o alto padrão de qualidade atingido pelos produtos elaborados. Tendo como principal característica o máximo respeito ao estilo próprio de vinhos que este país pode oferecer; Seu ícone, o espumante Cave Geisse considerado pelos experts como o melhor espumante do Brasil, hoje pode ser encontrado apenas nos melhores restaurantes e lojas especializadas do Brasil. Um verdadeiro BRASILEIRO POR EXCELÊNCIA.
A paixão do enólogo Mário Geisse pelo vinho é um caso de amor antigo, uma história que há muito estava escrita: “ A minha vida com o vinho começa desde criança. Em minha casa ele sempre foi parte do dia-a-dia como o pão e a carne, como tudo que existia na mesa. Eu nasci vendo-o como elemento de vida. Morávamos numa região produtora de uvas para pisco, Limari, a 400 KM ao norte de Santiago.
Da sua infância recorda o memorável verão de 1957 quando conheceu o senhor Perico, no povoado de Caleu, que ensinou-lhe a fazer vinhos e mostrou toda a magia que envolve a arte de beber entre amigos. Mário gosta da vida no campo. Foi isso que o fez decidir estudar agronomia e especializar-se em vinicultura. “Não sou uma pessoa de escritório. Preciso estar em movimento, sou um itinerante. E o vinho me proporciona isso”.
Em 1971 foi trabalhar em Chillan, Concepción e Yumbel Coelemu, com pequenos agricultores e cooperativas. No ano de 1973, mudanças políticas e econômicas explodiram no Chile com a chegada de Augusto Pinochet ao poder. Mário é contratado pela vinícola Manquehue (uma gigante da época) onde desenvolveu novos vinhos até 1976. De repente, viu-se com apenas 25 anos contabilizando grande experiência e entusiasmo.
Breve sua vida iria sofrer uma expressiva mudança, inclusive de país: Mário é contratado pela Chandon para abrir mercado na América Latina, nos vinhedos da Serra Gaúcha. E assim começa seu namoro com o Brasil, país que ele não havia estado antes e que permaneceria até hoje. “A imagem que eu tinha do Brasil era absolutamente diferente da que eu encontrei”, revela. Mário descobriu que de tropical nada havia nestas terras do extremo sul e que a uva era muito distinta da chilena. Surpresa que pareceu lhe positiva e ótima para a produção de espumantes. Ele assumiu a Chandon em janeiro de 1977, nos primeiros passos da vinícola no Brasil, com os vinhedos começando a ser implantados, a cantina em construção e um novo mundo a ser descoberto. “Cada país tem sua característica e, sem dúvida, esta é uma região para espumantes. Como vou perder a oportunidade de estar em um lugar que nem imaginei que poderia existir?” Em algum momento o mundo vai dar-se conta de que isso é distinto. Vou ser o melhor produtor de uvas para elaboração de espumantes”, sentenciou como que a adivinhar o futuro. Ele procurou uma região alta com boa exposição solar, encosta virada para o norte e com a melhor drenagem possível. “Porque o maior limitante da região é justamente a chuva. Se chove, ela não me prejudica” pensou. A procura levou um ano e no final de 1978 a compra de 36 hectares a 800 metros de altura na região de Pinto Bandeira conhecida por Vinhos de Montanha, se concretiza.
A Vinícola Geisse é pioneira na adoção do sistema Thermal Pest Control (TPC), que dispensa agrotóxicos no cultivo da uva. A tecnologia foi desenvolvida no Chile, pela Lazo TPC, e já garante excelente resultado na produção dos vinhedos de Chardonnay e Pinot Noir. Ao invés de agrotóxicos, o combate de doenças é realizado através de um controle térmico, utilizando um poderoso equipamento que produz jatos de vento a alta velocidade com temperatura de aproximadamente 130°C, fortalecendo o sistema de auto-defesa da planta, resultando em uvas de melhor qualidade com o dobro de resveratrol (anti-oxidante natural). 
“Quando eu plantei uvas pela primeira vez no sistema espaldeira, que produz três vezes menos que o sistema de condução latada, me chamaram de louco e disseram que eu ia morrer de fome. O mundo precisa de loucos, no bom sentido da palavra. O louco está muito perto do sonhador. É nisso que acredito, nos loucos sonhadores. Isso quis ter na minha uva, um sistema imunológico forte. Numa região que sempre se criticou pelo uso abusivo de produtos químicos, ter um produto livre de pesticidas resultará em produtos ainda melhores do que já estamos entregando agora. O sucesso foi total e a eficácia absoluta. Além de todos os benefícios, os trabalhadores do campo estão longe de produtos nocivos à saúde, com isso estou preservando meu capital humano”.
Existem dois métodos: charmat e champenoise. A Vinícola Geisse utiliza o segundo, que é mais complexo e entrega um espumante de superior qualidade, sempre elaborado com uvas Pinot Noir e Chardonnay. O processo passa pelas fermentações (seca e malolática). A primeira fermentação acontece dentro de tanques, a segunda já na garrafa. Este é o grande diferencial do método champenoise, que oferece mais sabor e estrutura ao vinho espumante. Nos pupitres (suportes que deixam as garrafas na posição horizontal e inclinadas) é feito o ‘remuage’ (movimentos circulares feitos com a mão uma vez por dia). O objetivo é levar a borra do fermento para junto do gargalo. Parte-se, então, para o ‘degogerment’, onde os resíduos são congelados, a tampa é aberta com um abridor especial e eles são expelidos. A borda interna da garrafa é limpa, a rolha colocada e com a garrafa contra luz, averigua-se a limpidez. Trinta dias após a rotulagem, o espumante já esta liberado para comercialização. Salud!



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