segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O vinho morreu?


“O vinho morreu”, esta afirmação é de Aimé Guibert, em entrevista a Jonathan Nossiter, diretor de Mondovino. Esta sentença nos coloca diante de um espelho de múltiplas faces. Por que o vinho morreu? Quem elabora os vinhos que estão morrendo? 
Hoje comemoramos o dia do enólogo, o profissional que estuda para elaborar vinhos vivos. Diria que diante de sua morte eminente temos o desafio de reanimá-lo. Sabemos a doença letal que o está consumindo “o moderno marketing, ao transferir do produtor secular ao consumidor leigo, a decisão do que produzir conforme não as suas vontades, mas as do mercado, trata com desprezo e arrogância uma cultura tão ou mais antiga do que o próprio homem”, diz meu amigo Álvaro Escher. 
O verdadeiro enólogo é aquele que produz o que ama e não o que o mercado dita. “Fazer vinho era um ofício de poetas, que hoje se chamam enólogos” conclui Aimé Guibert. Ainda mais longe da alma dos velhos poetas vinhateiros estão os que hoje se denominam em pleno Brasil de winemakers. 
Para mim o vinho é a essência de tudo, é o todo, é o absoluto. 
Em Cartas a um jovem poeta, um amigo escreve a Rilke, pedindo que avalie os versos que acabara de escrever. Eis a resposta: “Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?” Então eu poderia escrever uma carta a um jovem enólogo e perguntar: morrerias se lhe fosse vedado fazer vinho? Morrerias?

Luis Henrique Zanini.

Aimé Guibert


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