quinta-feira, 10 de maio de 2012

ROLHAS: SÉCULOS DE HISTÓRIA DENTRO E FORA DA GARRAFA


Quando pensamos na história do vinho, as lembranças também nos remetem a um pequeno artefato que, desde o final do século XVII está intimamente ligado ao mundo vitivinícola: a rolha de cortiça.
Segundo alguns historiadores, o objeto vedante já era utilizado no século V a.C., evidência que aparece em uma ânfora descoberta na Grécia e que data desta época. Alguns defendem a teoria de que a rolha de cortiça vem sendo usada há mais de 3 mil anos para transportar vinhos e outros líquidos.
Das ânforas para as garrafas, foi em 1680 que a rolha passou a ser amplamente utilizada pelos produtores vitivinícolas. Isso porque D. Pierre Pérignon, ao perceber que os vinhos produzidos na região de Champagne desenvolviam uma espuma natural dentro da garrafa que fazia saltar os toquinhos de madeira com cânhamo embebidos em azeite, as trocou por rolhas de cortiça, descobrindo dois elementos que mudaram a história do vinho.
Produzidas com a cortiça que é retirada do milenar sobreiro, árvore da família do carvalho, as tradicionais rolhas permitem a conservação do vinho em garrafas, preservando a qualidade e a tipicidade. Também funcionam como uma espécie de 'medidor' ao proporcionar a troca de ar ideal com o ambiente externo, evitando que o vinho receba uma quantidade maior de oxigênio, algo que o prejudicaria. Esse fenômeno se chama micro-oxigenação. Além disso, é altamente isolante, impermeabilizante e possui grande flexibilidade, podendo retomar a forma original após ser comprimida.
A primeira extração da cortiça é feita quando o sobreiro atinge 25 anos, mas a primeira casca não pode ser usada para a produção da rolha; nem a segunda, extraída nove anos depois. É preciso aguardar mais nove anos para que a terceira casca – esta sim, utilizada para as rolhas – seja retirada. Daí em diante, pelos próximos 150, 200 anos (tempo de vida dos sobreiros), de nove em nove anos pode ser feita uma nova extração.
Cerca de 300 mil toneladas de cortiça são produzidas anualmente por países como Espanha e Itália. Portugal detém 52% desta produção, dos quais 90% são transformados em rolhas.


Texto de João Valduga


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