Por Marco Danielle.
A safra 2009 desse rótulo foi o vinho de maior repercussão da história do Atelier Tormentas. Quando Ed Motta e Didú Russo declararam ser esse o melhor vinho brasileiro atualmente produzido, o peso da responsabilidade aumentou, frente à expectativa gerada sobre a nova safra. Em 2010 a safra não alcançou o nível de qualidade esperado, e o vinho não foi feito - dois bons motivos para em 2011 aumentar um pouco o volume produzido e zelar ao máximo pelos resultados. Pelo que tudo indica essa meta foi alcançada, e o Fulvia Pinot Noir 2011 deverá ao menos se equiparar a seu predecessor - talvez com um leve ganho em complexidade, acidez e estrutura. Degustado em Julho de 2011, o vinho mostra um matiz vermelho levemente mais intenso que em 2009, o que aponta para algumas informações sobre a safra e a vinificação: acidez e estrutura um pouco melhores; maior estabilidade; menor oxidação; menores perdas fenólicas e aromáticas. Contudo, essas mudanças ainda são muito sutis para fazer diferença. Sabemos que o caminho é longo e o desafio é grande, e que ainda há muito a aprimorar e a explorar no campo da misteriosa Pinot Noir, mas a busca obstinada por evoluir a cada safra deverá ser administrada com prudência e parcimonia nos novos experimentos envolvendo essa caprichosa casta, de forma a não desvirtuar os traços de delicadeza e personalidade tão apreciados no Fulvia 2009. É mais fácil controlar os resultados quando fazemos vinhos tecnológicos, mas quando fazemos vinhos naturais os controles ficam restritos à paleta de nuances oferecida pela natureza. Ganhar em acidez natural pode significar perder em expressão aromática, e assim por diante. Portanto cada experimento em prol de melhorias deve ser feito com prudência, evitando oscilações bruscas que distorçam o objetivo central: elaborar um Pinot Noir de modo mais natural possível, inspirado na elegância, no equilíbrio e na delicadeza de um bom borgonha. O plano para a safra 2011 foi ganhar em estrutura e complexidade sem perder a sutileza. Para isso, parte das uvas foi desengaçada e parte encubada em cachos inteiros, gerando uma fermentação semi-carbônica clássica. Outra mudança radical em relação à safra 2009 é que a partir de 2011 o amadurecimento se dará totalmente em barricas, rigorosamente escolhidas e testadas para neutralidade e sutileza. De 2011 em diante, portanto, o Pinot Noir do Atelier Tormentas será inspirado em alguns métodos ancestrais que pude conhecer pessoalmente na Borgonha. Outra meta para essa safra foi restringir o uso de SO2, com prudência. Tal objetivo foi alcançado com sucesso, e o Fulvia Pinot Noir 2011 pode ser considerado um vinho ainda mais natural que o 2009: não houve adição de leveduras comerciais nem adição pré-fermentária de SO2. A fermentação foi iniciada e terminada pelas leveduras selvagens provenientes do próprio vinhedo - o que também aponta para uma provável moderação na política de defensivos aplicados às vinhas, preservada a microflora de leveduras indígenas e outros microorganismos incorporados à fermentação. Assim sendo, poderíamos afirmar que o Fulvia Pinot Noir 2011 é fruto de uma vinificação natural. http://www.tormentas.com.br/home.php
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