terça-feira, 6 de março de 2012

Uva não é commodity


As famílias de viticultores da Serra Gaúcha vivem uma situação muito peculiar.Seu produto:a uva ,é tratado como como se fosse uma commodity .A uva não é uma commodity como a soja ,por exemplo.A soja,o café,o açúcar e vários outros produtos que transitam pelos países em busca de mercado tem seus preços decididos por 4 ou 5 homens de terno e gravata que nunca plantaram uma muda de qualquer espécie.
O mercado ao querer tratar a uva segundo as leis do capitalismo,coloca os produtores numa situação bastante desconfortável,quase insólita.Se o produtor deixar os vinhedos sobrecarregados de cachos para compensar o preço ridículo que lhe é pago pelas suas uvas,estas não atingirão o grau babo mínimo necessário exigído pela grande fábrica de vinhos .Por outro lado,se o  viticultor realizar uma redução drástica de produtividade aliada a outros tratos culturais modernos,resultando em uvas excepcionais ,o preço destas não subirá de maneira proporcional.
Não é de se estranhar que os filhos dos camponeses estão abandonando o campo e indo buscar uma sorte melhor na cidade,sem falar nas várias propriedades que estão sendo colocadas à venda,o que vai resultar numa transformação da paisagem.Onde hoje há vinhedos,amanhã haverá condomínios de luxo decretando com isso,o fim do enoturismo na região A saída para esta situação me parece bastante óbvia .Já existem alguns exemplos de sucesso a serem seguidos na própria serra mesmo,como é o caso da família Pizzato ,dos Carraro,e tantas outras famílias que estão fazendo seu próprio vinho em verdadeiras boutiques enológicas com uma marca própria,um bom trabalho de marketing .
Porém,nem todos os viticultores tem o mesmo empreendedorismo e a mesma motivação para começar um projeto do ponto zero.Arrancar latadas de uvas americanas ,plantar espaldeiras de vitiviníferas européias ,construir um cantina,comprar tanques de inox,barricas de carvalho ,contratar um técnico,esperar a primeira colheita,fazer o vinho ,promover a marca...Ufa!!!!
É justamente nestes casos,que uma ação do governo,através do BNDES,seria de vital importância para o resgate da tradição deste povo.

João Veloso

2 comentários:

  1. Caro joão muito bom você tocar este assunto, pois é negligenciado pela maioria dos blogs sobre vinho.Mas somente a abertura de crédito pelo BNDS não é suficiente e sim uma flexibilização das garantias que poderão ser apresentadas ao banco.
    Cada vez que ocorre uma negociação como esta o agricultor é sugado pelo banco.Garantias e mais garantias para obter um financiamento são exigidas,um fiador é só a ponta do iceberg(e como conseguir um nos dias de hoje?)impossível.Se o banco aceitasse a terra como garantia já seria um grade avanço.Obrigado e SAÚDE para todos.

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  2. Olá João!
    bela lembrança e ressalva, realmente esta é uma realidade e, só com apoio e incentivo do governo é que os produtores podem superar.

    Além da questão de abrir um empreendimento próprio, o que requer capital e especialização, acredito muito nas associações e cooperativas, que podem ser uma solução eficaz e já temos vários exemplos na serra gaúcha.

    Assim, pode-se agregar valor ao produto e conseguir barganha com fornecedores para os equipamentos e materiais, devido à quantidade demandada, assim, juntos tornam-se grandes, venderão o próprio vinho engarrafado de valor e não as uvas para empresas grandes.

    Um Brinde!

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