domingo, 18 de março de 2012

O verdadeiro enófilo e seu olhar crítico.


Os enófilos emergentes, leigos e crus podem fazer sua incursão pelo mundo do vinho apreciando, o que se faz em grande escala. Não que isto deva ser uma regra, mas é difícil acreditar que a iniciação enofílica se dê pelo consumo, por exemplo, de um Domaine de Romanée-Conti. É muito mais provável que a degustação de vinhos de produção limitada, mais caros, ocorra a partir do aumento da exigência derivada do consumo regular ao longo dos anos, prática alicerçada também na diferenciação do poder aquisitivo do público interessado. O verdadeiro enófilo, atingindo determinado grau de exigência e busca de satisfação pelo usufruto das peculiaridades que só o vinho possui, transcende a publicidade direcionada e, com parcimônia, lhe dirige um olhar critico e mesmo a despreza, buscando exclusivamente no conteúdo o exacerbamento do prazer e da satisfação que a bebida pode proporcionar, alheio até mesmo as trivialidades exteriores impressas no rótulo. Ou o conteúdo satisfaz o desejo, ou a busca prossegue sempre, eternamente, em outra garrafa. Restando classificar as já consumidas conforme vontade específica muito particular, residente onde os conceitos pré-concebidos não se atrevem a transitar. Como se vê: além de ter espaço para todos os vinhos, os uniformizados podem estar servindo de cobaias, na artilharia, e abrindo novos mercados e removendo obstáculos que sozinhos os artesanais não conseguiriam. Mais do que isto, ao afirmar que o momento é do dinheiro, os diretores dos grandes grupos podem estar se equivocando e armando um perigosa armadilha contra seus próprios negócios. No mundo dos grandes empreendimentos assim como se constroem fortunas celeremente, também se as perdem num estalo. 
 

Texto de Álvaro Escher

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