sábado, 24 de novembro de 2012

Um pouco de humor (Ocê gosdevinho?)


Ocê gósdevinho?


Degustação de vinho em Minas 


- Hummm... 

- Hummm...

- Eca!!!

- Eca?! Quem falou Eca? 

- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?

- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de 
trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas... 

- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo ?!

- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor? 

- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor !! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!

- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild! 

- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é ?

- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então... 

- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada! 

- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no... 

- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim! 

- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens... 

- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta... 

- O senhor poderia começar com um Beaujolais! 

- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana! 

- Então, que tal um mais encorpado? 

- Óia lá, ocê tá brincano com fogo... 

- Ou, então, um suave fresco! 

- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada! 

- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar! 

- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta... 

- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio? 

- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu? 

- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei? 

- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia! 

- Mole e redondo, com bouquet forte? 

- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!... 



Luiz Fernando Veríssimo

3 comentários:

  1. Mestre Luiz Fernando Veríssimo, saúde pra ele!

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  2. Leandro

    Essa anedota mostra dois extremos.Podemos gostar de vinho sem sermos inconvenientes.O Luíz Fernando Veríssimo é um sábio.

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  3. Exato João!

    é uma bela piada! Considero o Veríssimo um mestre.

    Desejei saúde pois se encontra enfermo, está internado em estado grave...

    que tenha muita saúde para escrever muito mais crônicas como esta!

    Abraço!

    Leandro Ebert
    http://portalvitivinicultura.webs.com

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