Muito se tem dito, discutido e afirmado por técnicos, viticultores e cantineiros sobre qual o melhor sistema de condução da videira com o intuito de produzir uvas e vinho de qualidade. Discussão esta que deverá continuar por muito tempo.
O Brasil é um país relativamente novo e seu crescimento e desenvolvimento muito se deve em função da introdução de tecnologias advindas de outros países, que são criadas e adaptadas às condições de origem. Na vitivinicultura da Serra Gaúcha não é diferente, e ainda se caracteriza por ser uma atividade que despertou interesse somente nas últimas décadas, tendo todo um futuro para desvendar. Onde, dúvidas e questionamentos são frequentes no momento de iniciar um empreendimento na área. A interação dos fatores clima, solo, videira e homem irão determinar e transmitir as características da uva e do vinho de uma região. Para uma melhor compreensão podemos subdividir o clima em três níveis: macroclima, mesoclima e microclima.
Há milhões de anos atrás o solo e a topografia determinaram o macroclima da Serra Gaúcha e este não temos como alterá-lo. Já o mesoclima varia em função de variáveis como: altitude, declividade, exposição solar, ventos, evaporação distância de lagos e rios e etc. Sendo a região composta de vales e montanhas, podemos afirmar que em cada vinhedo poderá ter um ou mais tipos de mesoclima em função da sua localização na propriedade vitícola. O microclima é o clima dentro ou próximo da vegetação da videira e este é altamente afetado e ou modificado pelas decisões culturais do viticultor como: espaçamento entre plantas e linhas, escolha do sistema de condução, tipo de porta-enxerto utilizado, dos níveis de adubação e de poda seca ou verde praticados, manejo do solo e do dossel vegetativo, controle de pragas e de doenças, enfim de todas as práticas agronômicas aplicadas antes, durante e após a instalação do vinhedo.
Antes de qualquer ação o viticultor deverá avaliar, identificar e mapear os diferentes mesoclimas existentes na sua propriedade, o que permitirá a ele o arranjo das diferentes variedades de videiras que melhor se adaptarão a cada situação.
Devemos atentar sempre em buscar o equilíbrio da videira com o ambiente e para isto conhecer o potencial do solo da área torna-se imprescindível. A interação do solo e o suprimento de água determina o potencial do lugar. Um potencial do solo pode ser alto, médio ou baixo. De uma maneira geral podemos classificá-lo em função da profundidade do solo que as raízes da videira podem explorar, sendo potencial alto profundidade maior que 1,0m; médio entre 1,0 a 0,5m e baixo menor que 0,5m de profundidade.
Locais de alto potencial podemos antecipar que o vinhedo terá alto vigor. Neste caso deve-se pensar em variedades que mesmo com elevada produtividade conseguem manter uma qualidade satisfatória, optar por um sistema de condução mais elaborado para acomodar o vigor, espaçamentos mais amplos entre plantas e linhas, deixar maior carga de gemas por planta na ocasião da poda seca a fim de comprometer o vigor.
Os locais da propriedade de alto potencial na Serra Gaúcha geralmente são áreas planas e se situam nas bases das encostas onde o teor de matéria orgânica é elevado, a disponibilidade de água é maior, recebem menos radiação solar e ocorre menor circulação de ar. Nesta situação recomenda-se cultivar variedades de videiras mais rústicas como as Vitis labruscas e sistemas de condução horizontal como o latada.
Nas encostas das propriedades o potencial do solo geralmente é menor e estes locais drenam mais rapidamente, tem maior circulação de ar, menor teor de matéria orgânica, pouco profundos, e que na conjugação destes fatores transmitem menor vigor ao vinhedo. Nesta situação o espaçamento entre plantas e linhas pode ser menor e o sistema de condução menos complexo. Devemos priorizar estas áreas para o cultivo de Vitis viníferas, na qual as condições favorecem para que a videira expresse ao máximo seu potencial enológico.
Identificados os diferentes mesoclimas da propriedade o viticultor será decisivo na formação do microclima da videira. Todas as suas decisões agronômicas irão afetar diretamente ou indiretamente o sucesso de seu investimento. A escolha do sistema de condução deve fazer parte deste processo amenizando os efeitos negativos do macroclima da região e mesoclima do vinhedo para compor o microclima da videira.
Afirmar que o sistema de condução A ou B é responsável pela qualidade final da uva e do vinho na Serra Gaúcha não é verdadeiro. O somatório de fatores já mencionados e a interação entre eles com a intervenção do homem irá determinar a qualidade final.
É inegável que a introdução de tecnologias prontas de outros países em primeiro momento acelera o crescimento, contudo, devemos nos livrar de preconceitos e olhar mais para o nosso umbigo e acreditar que o brasileiro é criativo, temos nossas características e podemos adaptar e criar produtos e tecnologias iguais ou superiores as existentes em outras regiões vitivinícolas do mundo.
Irineo Dall’Agnol
Lic. Ciências Agrárias
Enólogo e Vitivinicultor
Eu penso assim:
ResponderExcluirVinhos de uva de mesa, onde se busca alto rendimento por planta = Latada
Vinhos de vitis vinífera, onde se busca mais qualidade em detrimento ao rendimento = Espaldeira
Vanessa Sobral
Falando sobre Vinhos
Vanessa.
ResponderExcluiresta não parece ser uma verdade absoluta.
Veja o que diz o Dr. Mike Trought,pesquisador neozelandês de renome mundial na viticultura:"a pergola, cobrindo todo o solo, tem a maior exposição solar possível, tendo a máxima função de fotossíntese, mesmo que a espaldeira tenha maior I.A.F.; além disto, os cachos na pérgola ficam protegidos da luz solar direta, preservando aromas".
Agora veja o que diz Irineo Dall'Agnol:" “o sistema de condução da videira é só uma forma de sustentação do vinhedo.O melhor sistema é aquele que se adapta ao solo, ao clima e à planta”, afirma. O enólogo, que é formado em Ciências Agrárias e Agronomia, com especialidade em Enologia na Itália, rechaça a ideia de que o sistema de condução possa ser responsável pela qualidade final da uva e do vinho da Serra Gaúcha. “O que determina a qualidade final dos produtos é a soma de diversos fatores, como o clima, o solo e a sua interação com o homem”, ensina.