terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A cabernet franc poderia ser a verdadeira uva emblemática do Brasil?


Houve uma época, a partir dos anos 30, em que o vinhedo de Cabernet Franc foi o mais importante da região colonial, e talvez os primeiros vinhos ditos "finos" de nossa história dele tenham provindo, pelas mãos de pioneiros que já haviam testado de tudo nessas terras. Mas nada ocorre por acaso. Tudo tem um porquê, e há que se considerar as vivências dos antigos. A meu ver, a razão mais provável de optarem pela Cabernet Franc é a aptidão da casta a produzir vinhos passíveis de ser consumidos jovens - fator relevante para os sedentos desbravadores. O abandono da Cabernet Franc, me parece, teve a ver com a entrada em massa de vinhos argentinos e chilenos, quando Cabernet Sauvignon virou sinônimo de qualidade. De enorme estrutura, a Cabernet Sauvignon resiste melhor à degradação fenólica inevitável no calor escaldante dos desertos, em solos irrigados. O mesmo não ocorre em nosso clima, que o regime de chuvas aproxima das condições européias. Aqui, como no Europa, os bons vinhedos tendem a uma super estrutura fenólica - o que no caso da Cabernet Sauvignon pode ser desvantagem, se a meta é consumir vinhos jovens. A luta de nossos produtores para "amaciar" [a qualquer custo!] uma casta dura, e dela extrair vinhos comerciais instantâneos nos moldes chilenos, é, no meu entender, o maior equívoco da vitivinicultura local. Ocorre que a Cabernet Sauvignon, em nosso terroir, comporta-se bem mais nos moldes de Bordeaux do que ocorre no Chile. Como acontece com os clássicos bordaleses, precisaríamos aguardar anos para que um Cabernet Sauvignon bem feito chegasse ao ápice. Nossos ancestrais, que não dispunham nem de produtos enológicos nem de técnicas industriais para amaciar vinhos, talvez tenham feito uma escolha certa ao eleger a Cabernet Franc como principal uva vinífera do Rio Grande do Sul.


Fonte : http://www.tormentas.com.br/home.php

Nenhum comentário:

Postar um comentário