Cara Silvana,
Lendo sua coluna de hoje no Jornal Pioneiro percebi entre outras coisas, um erro gravíssimo de conjugação verbal.
“O deputado federal Edinho Bez (PMDB-SC) apresentou na última semana projeto de lei para incluir o vinho entre os produtos que compõem a cesta básica nacional. (...)
A cadeia vitivinícola da Serra, responsável por quase 90% da produção nacional, COMEMORA, pois seria o primeiro passo para a redução de impostos”.
A conjugação correta é COMEMORARIA porque há tempos nós produtores de vinho não temos o que comemorar. Não comemoraremos mais promessas eleitoreiras, projetos de lei que só servem para promoção pessoal de políticos e são simplesmente surreais. Não comemoramos estatísticas manipuladas por quem precisa mostrar serviço nas suas atribuições de promover o mal visto vinho brasileiro.
Qual a chance desta lei ser aprovada? 0%. Justificativa: o cerco às bebidas alcoólicas dentro do Governo Federal tem ganhado força nos últimos tempos. Encabeçados pela bancada evangélica, existe uma verdadeira campanha contra qualquer mídia ou incentivo para a produção e consumo de bebidas alcoólicas. E num país onde o vinho é tratado exatamente como a cachaça, wisky e demais bebidas quentes, não há boas notícias à vista. Longe, muito longe das realidades européias e até de nossos vizinhos do Mercosul, onde o vinho é um produto cultural, expressão da terra, tratado com políticas governamentais especiais.
É bom lembrar a tentativa encabeçada por Estilac Xavier(PT-RS), aqui no Rio Grande, de classificar o vinho como alimento, aprovada pelos deputados e depois vetada pelo governador Rigotto. Estranho o fato de estando o seu partido agora no poder, o projeto jamais ter sido discutido novamente.
Aproveito este espaço para sugerir também que antes de noticiar belas estatísticas de crescimento de vinícolas e do setor, a senhora pesquise mais a fundo a verdadeira realidade da vitivinicultura da Serra. A senhora leu no último domingo na Zero Hora a entrevista com Adriano Miolo sobre a situação do setor? Achei extremamente positivo que alguém representante das grandes vinícolas também exponha a farsa sobre as excelentes perspectivas para os vinhos brasileiros. Porque cada vez que um de nós, pequenos vinicultores, abrimos a boca , somos taxados de incompetentes, pouco profissionais e acusados de semear a discórdia no setor. Em consonância, reproduzo também a fala de um grande empresário do agrobusiness gaúcho na coluna de Danilo Ucha, do Jornal do Comércio: “
“O setor vinícola brasileiro está estrangulado, amordaçado, enforcado, e todos os investimentos que estavam programados foram suspensos, porque é impossível produzir com a atual carga tributária, com os preços do frete e com a concorrência do vinho estrangeiro, principalmente do Mercosul, que entra sem pagar impostos no País. Esta conclusão é de um dos maiores e mais competentes empresários rurais do País – criador de gado e ovelha, plantador de arroz, soja e outros produtos -, que há alguns anos resolveu plantar uvas e fazer vinhos, com um dos principais investimentos do setor nos últimos anos, Valter José Pötter, da Estância do Vinho Guatambu, de Dom Pedrito. Segundo ele, algumas grandes vinícolas, como Miolo e Casa Valduga (Domno), estão se transformando, também, em importadoras para sobreviver. Está muito mais barato produzir vinho no exterior e importar para o Brasil do que fazer aqui. “Lá fora, a carga tributária é menor, o custo da mão de obra e do frete também, e ainda se obtém isenção de impostos para ingressar o produto no País”, informou.
Acredito que o grande papel de qualquer jornalista ou meio de comunicação é noticiar o que de alguma forma possa suscitar a discussão, abrir caminhos para a solução de problemas, e contribuir com a verdade.
Não sou contra boas notícias, desde que elas tenham algum fundo de realidade. Uma coisa é certa. Na direção em que estamos trilhando, a vitivinicultura brasileira se encaminha para mais uma crise histórica. Ou mudam as políticas, ou nossos netos lerão nos registros históricos que por 150 anos os brasileiros tentaram fazer vinho, mas a missão tornou-se impossível.
Atenciosamente,
Talise Valduga Zanini
Proprietária da Vallontano Vinhos Nobres Ltda.
João, eu li essa carta no Facebook também e realmente me surpreendeu a sinceridade e a eloqüência com que foi escrita. E realmente tem razão!
ResponderExcluirSe comparar um vinho argentino ou chileno que se compra no supermercado por R$ 16,00 com um brasileiro que custa mais caro, que consumidor vai querer o brasileiro?
Se nao há verba ou apoio para marketing, como os produtores de vinho váo poder mostrar que seus vinhos são bons?
Você fez bem em compartilhar a carta, já que quanto maior a divulgação, melhor para o setor!
Grande abraço,
Ale Esteves
www.damadovinho.com.br
Caríssima Ale,eu faço o que posso pra ajudar a divulgar o vinho brasileiro ,mas é uma batalha difícil.Um abraço.
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