O sector do vinho no Brasil não fala em outra coisa. E os produtores portugueses também. Pressionados pelos produtores de vinho do Rio Grande do Sul, o governo brasileiro ameaça lançar medidas proteccionistas para o vinho nacional. As adegas gaúchas, responsáveis por 95% da produção de vinho brasileiro, alegam que enfrentam concorrência desleal dos vinhos importados que no Brasil estavam a ser vendidos mais baratos devido ao excesso de produção mundial e da queda no consumo de uma Europa em crise. Assim, o imposto de importação poderá subir dos actuais 27% até aos 55%, fazendo com que os vinhos importados fiquem caros. No caso de Portugal, eles já são vendidos muito caros. Um vinho Casal Garcia, por exemplo, que por terras lusas se compra a um PVP médio de 4,40€, no Brasil pode chegar a custar quase 20€. Por isso, mesmo apesar da grande aceitação que têm dos nossos vinhos, as expectativas dos consumidores brasileiros acabam muitas vezes por sair goradas, quando pagam bastante por um vinho cuja qualidade não justifica o preço. E se os impostos subirem ainda mais, o nosso vinho (e o outros importados) vão deixar de ser tão consumidos.
Outra medida em estudo, ainda mais desastrosa, é o estabelecimento de quotas para a importação de vinho (limite de compras de fornecedores estrangeiros a um volume equivalente à metade da média dos últimos anos). Estas medidas estão a criar muita polémica, até porque nem todos os produtores de vinho estão de acordo. Revoltados estão também os chefes de cozinha brasileiros, como Alex Atala (do restaurante DOM, em São Paulo) ou Roberta Sudbrack (do restaurante carioca Sudbrack), que retiraram vinhos brasileiros das suas cartas, em sinal de protesto. Dizem eles, que o caminho da vitivinicultura brasileira «tem de ter um parâmetro», aprender com quem faz vinho há muito mais tempo», e por isso consideram que as medidas em estudo vão prejudicar também a evolução das adegas brasileiras.
Portugal já reagiu. Produtores bem conhecidos no Brasil, como Luís Pato (Bairrada), Paulo Laureano (Alentejo) ou Ramos Pinto (Douro) mostraram-se indignados com as possíveis medidas. Até porque todos concordam que podem vir a prejudicar e não a beneficiar o vinho brasileiro. Luís Pato vai ainda mais além quando diz que «quem verdadeiramente beneficia com isto é a Argentina, que faz parte do Mercosul». E remata, enquanto um dos representantes da principal instituição de promoção do vinho em Portugal: «Como vice-presidente da ViniPortugal, posso mesmo adiantar que Portugal pode deixar de investir no Brasil». Enquanto nada se decide, e o Brasil ameaça deixar de ser uma das montras de vinho do mundo, muito água ainda há-de correr debaixo da ponte.
Recordo de há uns anos ter viajado até o Rio Grande do Sul, e ter visitado várias adegas em Flores da Cunha, Bento Gonçalves e Garibaldi, muitas delas iniciadas por emigrantes italianos que ali colonizaram aquelas terras. Não fiquei impressionada. Aliás, com alguns dos vinhos fiquei mesmo horrorizada…escapavam alguns espumantes que agradaram ligeiramente. Hoje, mais de dez anos passados, é notória a melhoria dos vinhos brasileiros. Mesmo assim, nota-se que ainda há muito caminho a percorrer. O que me faz mais confusão neste processo é o facto dos produtores (além das desvantagens notórias que estas medidas podem trazer), estarem a tentar defender um produto que não é um ex-libris daquele país. Seria muito mais lógico que direccionassem as medidas proteccionistas para as maravilhosas frutas brasileiras ou para o café, por exemplo, produtos onde a qualidade é bem mais evidente do que no vinho, com um longo caminho de qualidade ainda por percorrer. É negócio, eu sei, mas como poderá evoluir o paladar do consumidor se lhe continuarmos a dar maus vinhos, ou vinhos assim-assim?
E, se por outro lado, decidirmos proteger os nossos produtos e lançarmos medidas proteccionistas tão graves em relação aos produtos brasileiros? Olhamos para estas questões tão obviamente disparatadas, refilamos com razão sem saber se valerá a pena, e pensamos que o governo brasileiro não deve mesmo ter nada mais importante para fazer com o dinheiro dos seus contribuintes.
Caríssimo,
ResponderExcluirEu sou completamente contra as salvaguardas. Mas também sou contra boicote generalizado (pois os pequenos produtores não têm nada a ver com essa história). Sou também contra pessoas de outros paises "arrotarem grosso" (desculpe a expressão) sobre nós. Que absurdo é esse da articulista falar em salvaguardas para frutas ou café brasileiro? Por acaso ela pensa que é só isso que produzimos? Portugal tem que saber que não somos mais sua colônia e que o Brasil não é mais um país dependente apenas de um ou dois produtos. E Portugal e Espanha não estão em condições favoráveis para criticar outros paises. Aliás, o Sr. Luis Pato disse mesmo que pode deixar de investir no Brasil? Faz-me rir! Seus vinhos não entrarão mais em minha adega.
Desculpem o desabafo, mas não posso ficar calado frente a impropérios.
Abraços,
Leandro Leal