Os enófilos emergentes, leigos e crus podem fazer sua incursão pelo mundo do vinho apreciando, o que se faz em grande escala. Não que isto deva ser uma regra, mas é difícil acreditar que a iniciação enofílica se dê pelo consumo, por exemplo, de um Domaine de Romanée-Conti. É muito mais provável que a degustação de vinhos de produção limitada, mais caros, ocorra a partir do aumento da exigência derivada do consumo regular ao longo dos anos, prática alicerçada também na diferenciação do poder aquisitivo do público interessado. O verdadeiro enófilo, atingindo determinado grau de exigência e busca de satisfação pelo usufruto das peculiaridades que só o vinho possui, transcende a publicidade direcionada e, com parcimônia, lhe dirige um olhar critico e mesmo a despreza, buscando exclusivamente no conteúdo o exacerbamento do prazer e da satisfação que a bebida pode proporcionar, alheio até mesmo as trivialidades exteriores impressas no rótulo. Ou o conteúdo satisfaz o desejo, ou a busca prossegue sempre, eternamente, em outra garrafa. Restando classificar as já consumidas conforme vontade específica muito particular, residente onde os conceitos pré-concebidos não se atrevem a transitar. Como se vê: além de ter espaço para todos os vinhos, os uniformizados podem estar servindo de cobaias, na artilharia, e abrindo novos mercados e removendo obstáculos que sozinhos os artesanais não conseguiriam. Mais do que isto, ao afirmar que o momento é do dinheiro, os diretores dos grandes grupos podem estar se equivocando e armando um perigosa armadilha contra seus próprios negócios. No mundo dos grandes empreendimentos assim como se constroem fortunas celeremente, também se as perdem num estalo.
Texto de Álvaro Escher
Grande Álvaro, lucidez, palavras lavradas a bisturí!
ResponderExcluirQuanto mais te leio mais te admiro!
Concordo, pois sou um destes enofilos
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